Servidor denuncia rachadinha de Nunes e relata esquema com ex-cunhado de Marcola
Em entrevista à Fórum, funcionário municipal de SP deu detalhes de como operaria máfia na SIURB e acusou ainda o atual prefeito de nomear fantasmas ou ficar com parte dos salários de nomeados
Um servidor municipal de carreira de São Paulo denunciou à Fórum que Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito paulistano e candidato à reeleição, supostamente praticaria o crime de peculato, conhecido como “rachadinha”, mesmo antes de assumir o comando da cidade. Ele citou detalhes ainda de como funcionaria um suposto esquema irregular em contratos emergenciais milionários na Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), cujo chefe de gabinete é Eduardo Olivatto, alvo de matérias jornalísticas de vários veículos de imprensa por ser ex-cunhado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, a maior organização criminosa do Brasil e que opera em pelo menos 24 países.
A denúncia, segundo o próprio autor, será apresentada à Polícia Federal nos próximos dias, incluindo todo o arcabouço probatório que ele afirma possuir.
Na entrevista exclusiva à Fórum [, o funcionário público, que apresentou seu vínculo com a administração municipal, mas pediu para não ter a identidade revelada, afirmou que Nunes sempre teve muita influência na SIURB, desde o período em que o prefeito Bruno Covas ainda era vivo, e de quem o atual gestor era vice. Nas palavras do denunciante, o candidato do MDB que busca um novo mandato no Palácio do Anhangabaú “oferecia cargos” para algumas pessoas para que “devolvessem parte dos vencimentos” dos supostos indicados, ou então nomeava colaboradores que nunca exerceram função alguma na prefeitura, a quem chamou de “fantasmas”.
Quando foi assumido pela turma do Ricardo [Nunes], a SIURB fez parte da negociação do apoio do MDB à Prefeitura de São Paulo, na eleição do Bruno [Covas], [a pasta] é a única secretaria que o prefeito tem domínio total, inclusive ele já oferecia cargos em troca de rachadinha para pessoas que ele precisava colocar na campanha, ou funcionário fantasma, [para que] devolvesse parte do salário”, acusa o servidor.
Na denúncia, o funcionário da Prefeitura de São Paulo deu pormenores de como operaria um suposto esquema criminoso em contratos emergenciais celebrados entre a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) e empresas prestadoras de serviço. Ele começou falando sobre a entrada de Eduardo Olivatto para o cargo de chefe de gabinete da referida secretaria e de como ele teria colocado gente de seu convívio, com a anuência de Nunes, para tocar os trabalhos na pasta.
“Foi após a chegada do Eduardo [Olivatto] que a gente percebeu um aumento significativo e muito grande nesses contratos emergenciais. O departamento se chamava Licitações e Contratos, tinha a parte de cadastro, licitação e contrato. Tudo no mesmo departamento. Eles tiraram, separaram o Departamento de Licitações e Contratos e trancaram a Licitações, montaram um time onde quem é o chefe de tudo isso é o chefe de gabinete, e ele trouxe pessoas da confiança dele e também usou pessoas que já estavam lá”, relata.
“O Eduardo [Olivatto] é o chefe de gabinete, né. É ele que contrata, ele que demite, e coordena o esquema todo. Bom, o Eduardo tem uma pessoa de confiança dele, que é o braço direito dele, que é uma mulher que se chama Mônica Pessoa. Ela tem uma função administrativa, né, dentro da secretaria, e uma função de operar também o esquema deles. A Mônica ajuda nessas questões junto às construtoras e todas as empresas que estão lá dentro. Ela cuida da parte administrativa dentro da secretaria com a ajuda da Milena [Borges Moreira Gobatti, do Departamento de Administração e Finanças], e aí colocaram a Adriana [Siano Boggio Biazzi], a atual secretária-adjunta, que já é uma engenheira de carreira, mas ela veio da SP Obras, quando o o outro secretário-adjunto que não compactuava com essas ações saiu, e aí colocaram na SP Obras um rapaz do MDB, chamado Bruno Gabriel [Mesquita]”, explica o entrevistado.
O denunciante, conforme o relato à reportagem, diz que houve até mudanças na estrutura de funcionários da SIURB para que o “esquema” apontado por ele seguisse funcionando sem problemas.
“E aí tinha a chefe do Departamento de Licitações num primeiro momento que se chama Lilian, ela já estava lá quando eles chegaram e eles apenas mantiveram. Fizeram um acordo com ela na época, e ela estava operando junto com eles. Mas como ela não demonstrou jeito para a coisa, eles trocaram e trouxeram essa pessoa de nome Sidneia [Maria Correia Leite], da Zona Sul”, aponta o servidor.
O funcionário municipal falou ainda a respeito do que, segundo ele, seria de conhecimento público dentro da Prefeitura de São Paulo sobre a relação de Nunes e Olivatto, que não seria nova, conforme suas palavras.
“O Eduardo é da época, e conheceu o Ricardo Nunes na subprefeitura, não sei, de alguma subprefeitura da Zona Sul, onde ele trabalhava. Então, ele já conhecia o Ricardo, porque o Ricardo opera bastante na Zona Sul e há muitos anos, inclusive em relação às creches, é muito sabido por todos isso, né... O Eduardo foi colocado, nomeado por ele para estar lá fazendo esse trabalho, porque o secretário é mais a parte técnica. Eduardo, ele se coloca como quem faz a parte administrativa, mas na verdade ele está fazendo negócios ali dentro”, diz.
O suposto esquema, afirma o denunciante, teria começado a dar na vista porque, segundo ele, até os funcionários da SIURB passaram a não ter mais acesso pelo sistema de processamento de dados da Prefeitura de São Paulo aos contratos emergenciais, que teriam passado a ter acesso restrito apenas dos servidores de confiança de Olivatto.
“Em determinada época eles cortaram o acesso dos funcionários a esses contratos. Apenas esses contratos, só os emergenciais, somente eles tinham acesso a esses contratos, nem pessoas do próprio departamento, que não estavam no esquema, não tinham acesso”, relata.
Por fim, o servidor que faz a denúncia à Fórum diz que para não deixar o caixa da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras com dinheiro no fim do ano, ocorreria um suposto aumento dos contratos emergenciais que seriam “contratos superfaturados”.
“A gente percebia a movimentação deles lá, uma certa tensão no final de ano para poder zerar todo o caixa ali muito rapidamente no último dia do ano, que se poderia fazer uma publicação, né, no Diário Oficial. Muito dinheiro era mandado para SP. Obras e em SP obras foram nomeadas muitas pessoas com esse aumento significativo aí que chamou a atenção de todos. É uma prática de contratos superfaturados”, diz ainda o funcionário público.
Prefeitura rebate, cita “ilações” e aponta “objetivos eleitorais espúrios”
A reportagem da Fórum entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para obter uma resposta frente às acusações feitas pelo servidor municipal ao prefeito Ricardo Nunes e ao chefe de gabinete da SIURB, Eduardo Olivatto. A assessoria de imprensa da administração paulistana afirmou que as denúncias seriam “ilações anônimas” que teriam “objetivos eleitorais espúrios” a quatro dias do segundo turno das eleições. Veja a resposta na íntegra:
“A Prefeitura de São Paulo repudia a apresentação de ilações anônimas e sem nenhuma comprovação de suposta ‘denúncia’ a quatro dias das eleições em segundo turno. É lamentável que um veículo de comunicação que deveria se dedicar à verdade dos fatos acolha tentativa desesperada de fazer jogo eleitoral irresponsável. Sem nenhum registro em órgãos de controle interno ou externo, trata-se de iniciativa criminosa com objetivos eleitorais espúrios.”
Citados foram procurados pela Fórum
Os servidores citados pelo denunciante à reportagem da Fórum foram todos procurados, exceto Mônica Pessoa, que não pode ser localizada, tampouco identificada em relação à sua função oficial dentro da SIURB. Milena Borges Moreira Gobatti, chefe do Departamento de Administração e Finanças da pasta, disse que “deve estar havendo algum equívoco”, pois “não tem qualquer poder de decisão ou ingerência nas contratações de obras, colocando-se à disposição para sanar quaisquer dúvidas que porventura restem, em benefício da transparência e do compromisso com a verdade”.
Já Sidneia Maria Correia Leite, chefe do Departamento de Projetos, foi procurada pelo seu e-mail institucional da SIURB, ainda na quarta-feira (23), mas ainda não retornou o contato. O espaço segue aberto para a funcionária pública responder à acusação.
No caso de Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da SIURB, e Adriana Siano Boggio Biazzi, secretária-adjunta da pasta, por não terem divulgados os seus contatos, foram acionados via assessoria de imprensa da SIURB, que até o encerramento da matéria ainda não havia encaminhado uma resposta à Fórum, embora tenha respondido aos contatos comprometendo-se em fazê-lo. O espaço igualmente segue aberto para manifestações dos citados. Sobre Gabriel Bruno Mesquita, que teve o nome mencionado numa das falas do denunciante, como não houve qualquer acusação contra ele, apenas uma referência circunstancial, seu posicionamento não foi